Pessoalmente, dou graças a Deus porque nunca precisei pedir pelo meu sustento. Os próprios líderes da Missão escreveram algumas cartas e igrejas e irmãos se manifestaram com boa disposição para ajudar no meu sustento, muitas vezes fontes inesperadas e fiéis. Nunca faltou nada.
Mas o missionário que é convidado para se apresentar com carta
de sua agência missionária com vistas a levantar sustento para o seu ministério
não deveria se sentir e muito menos ser tratado como mendigo. Ele não é um
peregrino solitário, mas um enviado, um embaixador, em primeiro lugar de Jesus
Cristo, mas também da igreja. Missões é sempre um ministério participativo,
nunca uma tarefa isolada de um excêntrico.
Conheci uma missionária que, depois de vários anos de ministério
frutífero no exterior, passou um tempo no Brasil para mais treinamento. Ela sofria
com dor de dentes, mas não tinha coragem de compartilhar essa necessidade com
sua igreja, com medo de ouvir: “Lá vem nossa missionária pedir de novo!”
A igreja deveria providenciar este e outros cuidados
naturalmente, livrando seus missionários de tal constrangimento.
Por outro lado, a igreja não deve ser ingênua, como muitas vezes
tem se mostrado. Há missionários com boa lábia, que despertam as emoções e
levam as pessoas a contribuir. Estes, nem sempre têm um bom testemunho no
campo. Há outros que são fiéis e respeitados no seu ministério; são mais
humildes na apresentação e, por isso, são esquecidos. De qualquer forma, parece
ser algo extraordinário, não normal, contribuir com o sustento missionário.
A igreja deve saber também que é muito melhor sustentar alguns,
com um compromisso integral de intercessão e cuidado pastoral, que dar esmola a
muitos. Uma igreja com coração missionário recebe bem seu missionário que vem
de férias e o ajuda a conseguir moradia, cuidados de saúde, apoio pastoral, um
lugar para descansar. Muitas igrejas ainda não têm essa visão. Assim, muitos
missionários voltam ainda mais arrebentados para o campo.
Uma vez fui convidada insistentemente (quase forçada) para ir
numa grande reunião de senhoras de muitas congregações diferentes. Estava com
pouco tempo, mas cedi ao convite. Quando chegou o momento para o testemunho
missionário, a dirigente falou:
— Tem uma pessoa aqui que veio nos pedir uma coisa. Vamos lhe
dar dois minutos?
Sentindo-me humilhada, consertei:
— Não vim pedir nada. Fui convidada para dar um testemunho. Se
me ouvirem pelo menos cinco minutos, disponho-me a falar.
Soube que, numa grande conferência cristã na Inglaterra, alguém
fez um apelo para que os participantes guardassem os saquinhos de chá usados
para doar aos missionários. No dia seguinte, por toda parte, viam-se saquinhos
secando ao sol. Por que não pensaram em usar duas vezes o mesmo saquinho de chá
e enviar saquinhos novos para os missionários?
Em várias igrejas, tenho pedido roupas e calçados usados e literatura
evangélica para ajudar os irmãos angolanos. Muitas estão dispostas a dar, mas
não a selecionar, empacotar e, muito menos, ajudar nos custos de transporte. É
sempre uma feliz surpresa quando uma igreja ou pessoa prontificam-se não apenas
a doar, mas também a enviar as doações.
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Ou o quê?
Afinal, quem é o missionário?
É um ser humano, pecador, que comete erros, mas que foi salvo
pela graça.
É um ser humano vulnerável, que vive pressões muito maiores que
as de cristãos que ficam em casa, e geralmente têm muito menos estruturas de
apoio.
É um ser humano seriamente comprometido com o reino de Deus,
disposto a abrir mão de muitos confortos, segurança e relacionamentos para
obedecer ao seu chamado de amar e servir um povo diferente.
É um ser humano que precisa de pessoas que procurem
compreendê-lo, interessar-se em seus problemas, dores, projetos, sonhos e
frustrações.
É um ser humano muitas vezes deslocado, desorientado, confuso,
cansado, precisando de repouso, restauração de forças e amizade sincera.
O que vamos fazer com ele?
Por: Antonia Leonora van der Meer
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