Gostamos de falar em guerra espiritual, mas abandonamos nossa tropa de elite, nossos comandos no campo de batalha, sem orientação, sem recursos, às vezes feridos, sem qualquer cuidado! Nenhum exército humano faria isso.
Outra manifestação dessa inconsistência acontece no momento em
que o missionário põe os pés de volta no Brasil:
— Voltou do campo? Deixou de ser missionário. Acabou o sustento!
— um tremendo contraste com empresas e governos, que enviam funcionários para
servir em outras culturas ou situações de risco, e sempre oferecem uma série de
compensações.
Mas, no caso dos nossos missionários, se o sustento não acaba
por completo, geralmente diminui consideravelmente, afinal “o missionário é uma
pessoa simples, chamada para sofrer”...
Não nego que muitos sejam chamados para sofrer. Mas esse
sofrimento não deveria ser causado pela igreja que o envia e sustenta, mas
pelas condições do contexto de vida do local onde trabalha. É triste saber que
missionários brasileiros voltam prematuramente do campo muito mais por causa da
falta de preparo, de sustento e de apoio pastoral adequados, e por problemas de
relacionamento com os que os enviam, do que por problemas de ministério ou de
relacionamento com as pessoas a quem servem, mesmo em países considerados de
alto risco.
— Missionário?! Para mim é um ser muito mais santo, uma pessoa
chamada para sofrer. É alguém que não se preocupa com as coisas do mundo,
despojado. Um verdadeiro mártir!
É assim que muitos vêem o missionário. Um ideal que pode ser
admirado e colocado num pedestal, não um modelo para ser seguido. E é claro que
uma pessoa que está no pedestal não precisa de minha ajuda e compreensão. Está
ali para ser admirada (ou apedrejada).
Muitos missionários voltam dos campos emocionalmente exaustos,
confusos, quebrantados, precisando muito de um tempo de renovação, cuidado e
repouso. Mas são recebidos ou como heróis, com um programa lotado de
compromissos, ou sem nenhuma atenção. A igreja deveria ser a família onde
fossem recebidos com amor, carinho, cuidado, interesse neles como pessoas, e
não só no trabalho que realizam.
Há cristãos que, quando ouvem relatos de crises tremendas ou
encontram o missionário doente, magro e exausto, aplaudem:
— Esse é um verdadeiro missionário!
Mas, quando o mesmo missionário passa por uma fase mais
tranqüila, facilmente surgem críticas e desconfianças:
— Ele fica viajando por aí com nosso dinheiro... Que trabalho
realmente está fazendo? Parece até que está passando muito bem!
O que significa mártir? Vem da palavra “ser testemunha”, “dar
testemunho”. Mas aí o martírio não é privilégio só de missionários, e sim de
todo cristão verdadeiro...
O que vemos na igreja primitiva? Certamente houve alguns
mártires que morreram pelo seu testemunho. Mas a maioria deles recebia vários
tipos de apoio de igrejas e irmãos, e não buscava o sofrimento. Este vinha sem
ser convidado, muitas vezes inesperado, e era enfrentado com fé e coragem pelos
discípulos de Jesus, que até se sentiam honrados por sofrerem pelo seu nome.
Será que estou defendendo a volta de uma busca do martírio? Não!
Mas se não estamos dispostos a encarar seriamente essa possibilidade como conseqüência
de nosso ministério em situações de crise, teremos de abandonar muitos dos
campos missionários mais carentes.
No século 19, muitos missionários iam ao continente africano
sabendo que havia um alto risco para suas vidas. Oitenta por cento morriam de
malária, doença que ainda tem matado alguns jovens missionários brasileiros na
África. Isso é doloroso, mas não significa o fim de nossa responsabilidade.
Mais difícil é a situação em muitos países, onde o fundamentalismo religioso vê
o cristão como ameaça à sua cultura, família ou nação. Tem havido muitos
martírios, a maioria de simples cristãos nacionais, dispostos a arriscar suas
vidas no seu testemunho (martírio), muitas vezes sobrevivendo com salários
ínfimos.
Mendigo?
Ainda outros vêem o missionário como mendigo:
— Na minha igreja, missionário não prega!
Um visitante estrangeiro, a quem um pastor foi constrangido a
ceder o púlpito, transmitiu a mensagem de Deus e, para surpresa do pastor
preconceituoso, não pediu nada. Não estava ali para pedir.
Podemos perguntar mais uma vez: por que o pastor é digno de um
salário decente, plano de saúde, auxílio para transporte etc. e o missionário é
obrigado a “pedir esmolas” para o seu sustento?
Por: Antonia Leonora van
der Meer
Continua...
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